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  • Espaço a'mais

Dois poemas de 1/4 de abril

por Patrícia Franca


24 de julho de 2018


Epílogo


E na vacilação do entreabril

entreabril da vida

da morte

os rostos desconhecidos

rostos familiares

exerceram o plantio da cura

sob palavra nenhuma.


E a repartição de favos luminosos

pelos cinco olhos da abelha

o retorno da água sob o som de pedregulhos

a cercear uma poça seca

deram-nos de firmar

um pacto íntimo com o berço comum.


E o abandono de posses ao estábulo

entregou a permissão

para adentrar lentamente

a incompreensão dura de um rompimento.

E o cavalo descalço arrebentou a porta de madeira

o cavalo descalço trotou na alegria

sedento de dar-se ao longe.


E como se fosse impossível reverberar

a promessa dos que se amam pela loucura

como se a ciranda de um só corpo

esperasse pela vinda de uma mão nua

como se o preâmbulo não fosse de encontro

ao infinito circular da carta ausente

cresce a silvestre língua

este sem-fim.


5 a 8 de fevereiro de 2018


Abandonar-se à voz da noite. Ser nu perante os animais selvagens sem temer os olhos brutos da infância. Ato da redenção. Não provocar ataques ao vazio. Ter a coragem de condenar-se ao amor urgente na espera. Escurecer e amanhecer na madrugada. Encobre a noite, desvela o dia. Tornar-se amante da escuta. Emudecer junto ao movimento das nuvens. Dar. Anular o anseio de receber. Partir para o deserto sem oásis. Deitar-se ao lado da dor, e dormir. (Aclara as terras ocultas.) Ao lado, ao lado do abismo, escreveu ela, M. Ser estrangeiro na casa que nos guarda. O destino que leio em seus olhos é o mesmo que subtrai o desejo de entrar na floresta, minha umidade. Ser dado a estar. Ferir. Sangrar. Costurar com as mesmas mãos da carícia a carne viva, sem nunca perder de vista a ausência exposta do amor, na cicatriz. O buraco esmaga, escreveu ela, C. Se é na falta que você se revela, não procuro preenchê-la nem lançar-lhe ira, eu a amo. Escrevo, porque nunca, nunca, nunca se diz. Curandeira de almas, escreveu ele, F. Escrever não é dizer, é escrever. Abdicar, pois a certeza é matéria juvenil. A pronúncia do seu nome arde como retorno à primária língua, ainda desconhecida. Amor. Silencioso, não silenciado. Fundir-se à neblina. (Aclara o subterrâneo secreto.) O mar. Retirar-se. Co-ir.




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