Para Herberto Helder
por Mariana Paz
Ele fala da lÃngua como se não cansasse de movê-la, bêbada entre os corpos. A lÃngua fria entre as bocas, rouca. Ele come as gramáticas e gira o fôlego para o torpor das escadas e das pedras. Cabe-me cabê-lo, castanho. Puxá-lo como à crina do cavalo que se suga para o vento. A ventura do homem. Ele cobre, enaltece, amansa, ilumina. O homem é alcance e cor sobre o mármore. A sua voz carrega-me os bolsos de grãos e sobressaltos. É um anjo no qual calço as pernas e cujo ritmo, o do galope, percebo. Leva-me. Ama-me e liberta os pelos para que o segure e arrebente a cerca mãe. Busca-me. É robusto esse homem que me lambe o sexo. Sua lÃngua é como um véu para o avesso, inaugura o rolo azedo do desejo. É guardada, fiel e alvoroçada. Para o caminhante. Cerca-me como quem cerca um animal enorme. Não teme a mina dor. Agudo e calcinante. Periscópico, ausente, perverso. Atravessa-me, eternamente o que me morre. Eu o temo. AtraÃda para o seu colo como a asa quebrada da ave em desnuvem. Pinça-me a lâmina fina da ignorância. Alça-me no voo das fêmeas. Prendo-me aos seus cabelos grossos. É o ser entre as cabeças, busca-me para reter-me em sua loucura anexa. Dentro do gomo da palavra. Pulo para esse homem vão. Reina entre as sedas diabólicas e o fio iluminado. Corta o ar translúcido. É sem fim e recomeço. DÃzima que continua.
Fotografia da autora