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Nós, as irmãs Brontë [fragmentos]

por Jonas Samudio



aqui, onde moramos, é constante a chuva, constantes os vendavais

contínuos os trovões, como o do nosso nome, Brontë


todas nós nascemos em meio à chuva e, órfãos de uma mãe terrena, Maria Branwell, fomos criados por nossa tia, Elisabeth Brawell, Tia Branwell, irmã de nossa mãe


e por nosso pai, Patrick Brontë, que nos sobreviveu a todos


ambos, austeros protestantes, ele, o pobre sacerdote perpétuo de nossa paróquia de Haworth – razão pela qual morávamos na casa paroquial, ao lado do cemitério da comunidade –, ela, uma senhora da Cornualha que nos legou algumas heranças: a generosidade, a bondade, também a aritmética, o alfabeto e a costura: e uma soma que nos permitiu a dedicação à literatura


algumas de nós desejamos ser professoras, fomos tutoras e, sempre, de toda alma, aceitamos o chamado do gesto de


escrever até que, de nós, ficasse apenas ele, o gesto


[...]


meus três irmãos se foram e seus escritos, se existiram, estão perdidos; seu coração permanece-me oculto, dele apenas ouço os folguedos infantis, a rebeldia e o alcoolismo do jovem, um leve aroma de tintas secas, a falta de ar


por fim, o ar faltou-nos a todos


e, se o coração desses meus três irmãos permanece-me oculto, também o coração de minhas outras três irmãs: oculto, pois elas o escreveram, e o fazendo, deixaram o seu segredo impresso


não o leio

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