por Carolina Valverde
contaminação
em meu corpo de febre inaugural onde o voo é desejo abafado por penas frouxas para que a eminência da falha seja ao menos adiada;
em meus olhos que miram pares de palavras imãs cravadas em outros papéis como se tivessem nascido para só lá permanecerem;
em meu sangue que ainda escorre no entusiasmo de quem não escolhe veias ou artérias como se tivesse esquecido de que coração é mar;
em minha respiração que ofega à insistência de minhas sÃlabas trôpegas;
em meu colo que nina a falta de estradas para que durma cochilos promissores enquanto a tinta desce em calafrios pela caneta afoita;
em meus pés que ainda não experimentaram a crueza de solo algum;
em meus joelhos, palmas das mãos e peitos dos pés esfolados que ora deslizam ora agarram no desentupir de frases que parecem não existir para me pertencer;
venho como bactéria, na ânsia pela resistência de que sou capaz, em busca da infecção derradeira.
ariadne
buracos infindáveis que atingem o esqueleto do mundo
invertebrado, cheio de calos
onde nasceriam pipas adornadas de sol
despontam sementes invertidas
eras fecundadas na inocente ilusão de camuflagem
sobrevivente
carapaças inventadas em meio à fome de transbordamento
desejos que se combinam com falta de adubo
jaulas em sótão desenhadas
no papel
mapas encolhidos, fios embolados
sede de água que não se bebe
anemia
silêncio
eu, o minotauro, sucumbo
sem ela