por Dalva Maria Madureira Ottoni
Ando buscando uma resposta para dar ao meu filho. Vendo-me pendurada no computador, escrevendo, ele pergunta se escrever é lazer ou trabalho. Por eu estar aposentada, ele sustenta que meu novo interesse é um lazer. E deduz que eu não poderia dizer um ai.
Eu digo.
Eu dobro meu corpo para escrever. Eu reviro escombros. Minha carne se abre em ais.
Não se torce a letra sem dor.
E nem todos os ais lamentam.
A escrita tem sido um passeio nos quintais de minha infância. Descubro restos. Ressurgem com o brilho de lá. Às vezes, é tanta ventura que guardo para o dia seguinte a continuidade daquela descobrição. Mas só às vezes. Noutras, é um pedido.
Chamo de ofício o fazer escrita. Chamo de trabalhos os meus escritos.
Perguntas de filho são as mais afinadas.
Conta-se que a empregada de Tom Jobim, vendo-o podar roseiras, dizia-lhe para não ter esse trabalho, pois ela mesma o faria. Ele respondia que não era trabalho. Que aquele momento era de descanso. Porém, quando ela o via entregue à rede, falava: Descanse mesmo, Sr. Tom. E ele: Agora eu estou trabalhando.
Imagem: foto de Nauali Muhsen Madureira